Em busca do paraíso

Perante o divertido que é achar que quem não fala politicamente correcto está bêbado...
permitam-me:
O Cardeal Patriarca teria sido certamente mais cuidadoso se, ignorando as tecnológicas plataformas mediáticas do nosso tempo, calculasse que o seu discurso iria ser vergonhosamente retalhado - como qualquer leigo na matéria faria por lazer - em audios como os da TSF e Público.
Talvez alinhasse no politicamente correcto se, sendo previdente, imaginasse que palavras ditas a jovens portuguesas não fossem ser lidas à luz de "conselhos na fé" mas de "conselhos em sociedade", transformando-se a salva-guarda da liberdade individual religiosa num ataque xenófobo e apelo à separação das águas.
Talvez se exigisse dele o politicamente correcto se esse fosse o nosso saudável modus operandi em sociedade. O que não é, e quando é não é saudável.
O que aconteceu nas últimas horas nos media nacionais e internacionais - Valha-me Deus! (perdão, que invoco o nome de Deus em vão e hoje tudo se resume à habilidade em colocar ou não as palavras, mesmo que nos caia o mundo em cima) foi pura deseducação para a leitura das diferenças em sociedade, para o papel da igreja e para a vivência inter-cultural, que é disso que se trata.
O monte de sarilhos a que se referiu o Cardeal Patriarca existe. Chamar-lhe agressão física, mutilação genital, adultério não consentido, falta de liberdade e estatuto inferior teria sido se calhar mais visualizável.
A Igreja Católica contempla o casamento misto, perante o qual a parte não católica tem de conhecer o sentido do matrimónio e declarar que tomou conhecimento dele. No Islão não há casamentos mistos, o que implica a sujeição da mulher ao homem se for esse o caso. O que se não é um sarilho é pelo menos chato.
Na nossa sociedade os diferentes credos são propostas concretas de vida, mas propostas, logo a sociedade não vive obrigada a eles nem tão pouco tem o direito de os manipular segundo a sua vontade laica colectiva.
Em última instância qualquer pessoa casa, vive ou dorme com quem quiser. A conversa era dirigida àqueles a quem o casamento enquanto matrimónio da Igreja Católica é base ou projecto de vida.
Posto isto, a mulher pode querer sujeitar-se ao homem. Na nossa sociedade até disso se é livre. Importa é não branquear o que existe com pretensos entendimentos culturais que mais não fazem que pactuar com violações dos direitos básicos humanos. Como se quis estabelecê-los. Levar o diálogo e compreensão ao limite, nesta e noutras matérias, seria voltar ao início das cavernas ou a qualquer outro momento cavernoso que se tenha vivido a seguir.
Claro que isto tudo para uns é moralismo a mais para o colectivo de células, para outros não precisava de ser dito e para outros ainda podia dizer-se de mil outras formas. Mais ou menos políticas, mais ou menos correctas. Muitas voltas darão nos túmulos o que nos vêem hoje aterrorizados com a liberdade.
Espero que as palavras nos saiam todas bem no paraíso.

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