Última tentativa

Muito bonito, mas afastado do ponto que julgo fulcral. Não se pode apresentar argumentos sobre um ponto que concordamos, descurando o cerne da questão.

Volto a repetir: toda esta questão não é um problema de conteúdo, mas sim de forma. Penso que ninguém discorda que agressões físicas, psicológicas, mutilação genital, perda da liberdade individual, entre outras barbáries, são absolutamente condenáveis. Nem sequer é uma discussão religiosa, é uma questão de direitos humanos.

Agora este ponto, que é a justificação que muitos encontram para as frases do Cardeal e que estão explícitas no teu texto, não justifica a forma como o Cardeal se expressou. Acho que isto é simples e óbvio. Frases como "monte de sarilhos que nem Alá sabe onde vão parar" poderão, e são, considerados como ofensivos. A figura proeminente da igreja Católica em Portugal não pode cair neste tipo de piadolas de mau gosto por muito boa e honesta que seja a mensagem que quer passar. E todos sabemos que a melhor mensagem se pode perder na forma como a veiculamos.
Este é um caso flagrante disso mesmo.

E pondo o dedo na ferida: se fosse o Alberto João Jardim a dizer uma coisa dessas, estaríamos a ter este debate? Não me parece. Porque aí já se defendia como certeza que este tipo de expressões eram inadmissíveis. Nesse sentido, parece-me claramente que a imprensa é mais justa (explorando "os deslizes" de cada personalidade, como João Jardim, Manuela Ferreira Leite ou José Sócrates) do que algumas pessoas que coadunam os argumentos mediante os envolvidos.

14 comentários:

  1. MissC disse...

    ....até parece mentira...mas, amigo, desta feita parece-me que estou mais de acordo com o teu ponto de vista..será defeito de profissão?  

  2. M. disse...

    Darling,

    Tu até podes concordar com o conteúdo e discordar da forma, mas a crítica que vem sendo feita e à qual me opus desde o início - sem a personalizar em ti - é uma crítica que discorda do conteúdo e não encontra justificação (nem com palavras politicamente correctas) para uma distinção entra a liberdade individual no seio da igreja católica e a liberdade individual no seio do Islão.  

  3. Anónimo disse...

    Se a discussão não é de conteúdo, segundo afirmas, mas de forma, então é uma questão de gosto, de horror ao politicamente incómodo e de falta ou excesso de sentido de humor, algo bastante discutível... Eu achei com gosto, com um refinado e inteligente sentido de humor todas as frases truncadas que os nossos amigos jornalistas apresentaram do senhor Cardeal Patriarca. Aliás, passei o dia a rir com a cara de todos os "escandalizados". E espero que continue a ser assim tão fino e acutilante como foi. Porque aquilo que disse revela o esforço e as dificuldades reais no diálogo inter-religioso. Da parte dos católicos há uma grande abertura para encontrar pontos de contacto (que se iniciaram com o Papa João Paulo II, desde 1986 em Assis e que se repetem todos os anos), mas por parte dos muçulmanos em não vejo esses convites ao diálogo...  

  4. P. disse...

    Primeiro problema, generalizar. Nem todos os muçulmanos se expressam nas formas mais radicais do Islão. Se assim fosse, há muito que estaríamos em plena 3ª Guerra Mundial.
    Segundo problema, [o cardeal]conhece casos mas mesmo quando questionado mantém-se vago.
    Terceiro problema, pensemos em quantos casos terão acontecido em Portugal, de católicas portuguesas se tenham "prendido" a abusos através de um casamento muçulmano. De certeza que se afasta muito de um verdadeiro problema social, ainda assim, tem sempre a sua importância, é certo.
    Quarto problema, o politicamente correcto.Não me importa que ele seja radical ou não no que diz. É um líder de opinião, pelo estatuto que lhe foi conferido, e como tal tem obrigação de se saber expressar (forma e conteúdo), É fácil copiar os jornalistas, mas o simples facto de a platei no casino se ter rido no comentário,explica que o cardeal não soube ter seriedade.
    Quitno problema,é um cardeal católico.Não, não é esse o problema.A verdade é que por um simples questão de vocação o cardeal está afastado da ealidade que comentou.Não sabe o que é um matrimónio(a relação com Deus/Igreja é certamente diferente das relações humanas)e a sua crença com certeza que lhe dará menor compreensão da crença islâmica.Não se trata de ignorância, longe disso, apenas acho que o seu nível de conhecimento/pensamento estará num ponto demasiado teórico.
    O comentário do cardeal não tem nada de imperdoável. Mas, e não querendo extrapolar as coisas, reduziu-se à condição de uma mera caricatura.E podem culpar quem quiserem,mas em qualquer dia do ano aquele comentário me pareceria estúpido.não se trata de diferenças culturais/religiosas(não neste caso), apenas de um verdadeiro passo em falso.  

  5. P. disse...

    escrito sem revisão, peço desculpa pelos erros.
    deve ler-se criticar jornalistas e não copiar.  

  6. M. disse...

    Pode até ter sido descabida a caricatura, mas foi fiel. E não me parece que tenha sido um passo em falso - se por definição são aqueles que nos fazem desviar ou atrasar os objectivos - foi um passo em tempos espirituais de raros passinhos, o que na minha opinião não é possível avaliar com extrapolações laicas. O que o Cardeal disse, com ou sem as melhores palavras, foi que o casamento católico não será cumprido em todos os deveres que comporta se as duas partes não o assumirem (sendo que o sacramento é basilar na vida dos que acreditam). Existe na fé católica o casamento misto que veio integrar as relações "inter-religiosas". Na fé islâmica não existe essa integração. Só isso. Logo, uma mulher católica que namore com um muçulmano (ao que acresce o diferente estatuto entre homem e mulher) tem poucas probabilidades de conseguir cumprir com o casamento católico. Claro que quando os casamentos são festas em que a noiva se veste de branco e o casal nunca foi à missa (e os filhos nunca vão andar na catequese) as leituras que se fazem a esta questão do "monte de sarilhos" não entendem essa primeira "lição" mas resumem a frase ao apelo de um cardeal separatista e retrógado. O que eu acho é que como professar uma religião é indiferente(desde o momento em que as pessoas não são queimadas vivas)a quem não o faz, esta matéria também o devia ser. Ou quando muito devia ser abertamente chamada tão estúpida quanto ir à missa todos os Domingos.  

  7. P. disse...

    "extrapolações laicas" é um absurdo.Se a Igreja não tivesse uma presença tão forte na sociedade (tanto na história como no presente) facilmente aceitava restringir o debate apenas a quem genuinamente acredita.no mesmo sentido, o cardeal também não teria o direito (ou deveria falar) sobre casamentos muçulmanos.mas as coisas não funcionam assim.não está em causa o nível de tolerância religiosa, felizmente muito mais presente nas práticas do catolicismo do que no islão.está em causa quem é e o que deve dizer(e como o deve fazer).é sempre uma piada,triste, e uma piada triste não é forma de defender um assunto sério.Acredito que lhe dás o crédito por se tratar de quem se trata, assim como eu não reduzo o cardeal a este comentário, precisamente pelas provas dadas da sua seriedade (concordando-se ou não com as opiniões) noutras alturas.
    Mas um assunto sério merece decoro.E se fosse algum pedinte a dizer as mesmas coisas no meio da rua,não acredito que lhe conferises qualquer pedaço de seriedade.mas como é o cardeal não pode ser um erro (nunca isso) apenas não foi devidamente interpretado.  

  8. M. disse...

    "é sempre uma piada,triste, e uma piada triste não é forma de defender um assunto sério". Concordo. Principalmente quando os assuntos da igreja (haverá outros) são por regra transformados no circo que este foi. Mas só podia ter sido criticado por isso. Ouviste os audios certamente, não te pareceram cortados à força? Na tsf fizeram "jingles" com a frase, como fizeram com o jamais do Mário Lino. Na minha opinião há uma grande diferença entre uma verdade mal dita e uma asneira mal dita. Talvez a questão do perdoável ou imperdoável, como a puseste, sirva aqui. Parece-me é que explorar o perdoável resulta em deseducação gratuita.  

  9. Anónimo disse...

    Primeira resposta ao primeiro problema: Uma leitura mais atenta revelará que a expressão utilizada não é uma generalização. Porque as generalizações são perigosas, aquilo que se afirma é uma dificuldade sentida em todos os documentos que são referidos nos encontros de Assis. A verdade é que se poderia utilizar expressões mais vagas, mas com o mesmo sentido intrínseco: "entre a cristandade ocidental e o universo islâmico", "entre o catolicismo e e religiosidade árabe", etc. Voltamos às radicais diferenças entre forma e conteúdo...
    Segunda resposta ao segundo problema: Não esperavas que, questionado numa tertúlia, o Sr. Cardeal Patriarca fosse pormenorizar "ad nauseam" as referências que conhece, por respeito e recato. Ou temos dúvidas que conhece? Ainda bem que foi vago...
    Terceira resposta ao terceiro problema: Não é necessário resposta. Já respondeste. Tem sempre importância, não porque é católico, mas porque é humano.
    Quarta resposta ao quarto problema: É verdade, a plateia compreeendeu o fino, quase “britânico” sentido de humor do Sr. Cardeal, e por isso riu. E não é por isso que não tenha compreendido a gravidade e a seriedade dos elementos em referência. Há séculos que o sentido de humor dos nossos amigos ingleses atinge todas as esferas do comportamento humano, das suas crenças e convicções, da sua fé e das aberrações que cria. E por isso é criativo e por vezes genial. Eu tentei entender as expressões utilizadas dessa forma, e por isso também ri. Com gosto. E com respeito pela diferença do outro, porque não senti em nenhum momento que se estava a ridicularizar ou a diminuir. Mas esta é uma análise profundamente subjectiva, e terei de aprender sempre a conviver com outros “humores”.
    Quinta resposta ao quinto problema, e de todos o mais interessante: Desde quando não podemos participar e até conhecer intimamente um problema, mesmo sem o vivermos? Desde quando uma opinião distante não permite uma leitura mais premente, mais eficaz, mais ponderada e equilibrada? Além disso, o celibato, como factor de entrega aos outros, à comunidade é, para os cristãos, uma resposta de disponibilidade e de amor ao outro que podemos ponderar... Além disso, só o facto de ser um crente com um projecto pessoal de fé muito mais profundo e total permite-lhe ter uma outra leitura sobre essa mesma fé, a sua e a dos outros. E não será teórica, mas absolutamente vivencial!
    Finalmente, e regressando ao quarto problema, custa-me muito criticar os jornalistas, porque deve ser uma vocação ponderada e uma profissão tremendamente escrutinada, mas não suporto uma deturpação por anulação ou corte de discurso. Porque é assim que nasce o boato e a mentira, e neste caso acho que foi deliberadamente forjado, manipulado um desentendimento.
    Um abraço!
    (Agora que se está a tornar mais interessante, espero que o título seja também... "humor britânico"!)  

  10. Anónimo disse...

    Em vez de "Ultima Tentativa"!  

  11. Anónimo disse...

    Esqueçam... Estava a tentar fazer uma piada! Mas não tenho mesmo jeito!  

  12. Anónimo disse...

    Ainda não percebi muito bem, mas parece-me curioso que não crentes devotem tanta relevância ao que o Senhor Cardeal Patriarca diz! Ele falou para as mulheres Católicas, quem não se insere neste prisma, pode ter a sua doxa, mas sabem onde acaba a doxa, não sabem?
    Hoje o Primeiro Ministro prometeu casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Ainda não vi ninguém a queixar-se, interessante, este falou para todos os portugueses. Gostaria que se pudesse dizer igualmente o quão pouco intelegente é uma moção neste sentido, principalmente por ser a pessoa que é. O políticamente correcto muda muito, não é? Depende muito de para onde caminha a nossa sociedade e o que esta diz aceitar como a normalidade. Cuidado com a caverna às vezes apenas lhe pomos um ar condicionado, melhoramos umas coisas aqui, outras ali, parece que estamos bem arejados de espírito, mas não deixamos de estar bem acorrentados a ver sombras.  

  13. P. disse...

    à M.: Compreendo o que queres dizer relativamente à parte do circo. A Igreja é "naturalmente" (por uma questão de conservadorismo institucional, entenda-se) um potencial foco dos media. Nada disso invalida o que afirmei anteriormente por outras palavras,o cardeal não teve cuidado no discurso. E mesmo aceitando a questão como um simples aviso a uma situação em particular, continuo a achar a frase (forma, conteúdo...) absurda.
    Percebo o quão subjectivo e complexo pode ser um trabalho de edição, mas o Mário Lino, 'tadito, esse caso foi ainda mais triste, o coitado do homem comprometeu-se daquela maneira tão...explícita, e depois viu-se que nem no próprio ministério teve poder de decisão.
    Ao João. É como digo, outra pessoa, num outro contexto, e não há dúvidade de que aquilo teria piada.Assim, pareceu-me apenas despropositado.Quanto ao conhecimento, nunca lho neguei por não o ter experienciado.longe disso.parece-me apenas fechado num campo teórico,pelo menos do ponto de vista de uma relação humana como o casamento.quanto à questão de falar de islamismo,aí o que me causa dúvida(e é dúvida mesmo no sentido de desconhecimento)é a forma como se constrói a própria compreensão do cardeal sob o mundo islâmico.~
    Vou ver se me faço entender:o cardeal é uma figura que privou com semelhantes(posso chamá-los assim)seus na religião islâmica; acredito que seja também um conhecedor do corão, bem como das mais variadas práticas islâmicas.a minha questão é se a sua crença profunda não o afasta demasiado de uma possível compreensão, mais "aos olhos" de um crente no islão.e parece-me ser uma dúvida mista.
    à parte de tudo isto continuo a achar que o aviso a católicas sobre casamentos islâmicos pode ter algum sentido, mas se calhar era bom balanceá-lo com o aviso a raparigas católicas sobre o casamento apenas.porque há com certeza (por uma simples questão democrática) muitos católicos praticantes bem violentos,com mulheres que se lhes submeteram.E em Portugal são de certeza mais do que qualquer casamento inter-religioso.Há diferenças culturais crassas?certamente que sim.E demasiado crime foi cometido sob o espectro do islão.há que saber denunciar isto devidamente, muito para além do politicamente correcto.mas no meio do caminho não podemos achar que é por "eles" e pelo deus deles que tudo corre mal.o cardeal pareceu-me ter estado muito longe de compreender isto quando fez aquele comentário.
    Ao anónimo:
    A Caverna é uma metáfora lindíssima.preocupa-me esse uso ao desbarato.O que viu na televisão é apenas eleitoralismo.Este governo tem-se tornado especialista no assunto.mas quanto a mim há efectivamente questões maiores.
    não me parece que seja por haver casamentos entre gays que o mundo piore.como também não me parece que o mundo tenha sido melhor nos últimos tempos por serem proibidos.  

  14. Anónimo disse...

    Ao P.“... muito para além do politicamente correcto.mas no meio do caminho não podemos achar que é por "eles" e pelo deus deles que tudo corre mal. O cardeal pareceu-me ter estado muito longe de compreender isto quando fez aquele comentário.”
    Não consigo encontrar, quer nos espasmos das frases cirurgicamente cortadas, quer nas versões felizmente mais alargadas que já encontramos na internet, a mais microscópica referência do Sr. Cardeal do mal que é causado por Alá, ou dos que o seguem... A leitura do comentário só pode ser outra – um aviso perante uma exclusividade não só redutora mas sobretudo alienante perante a fé, as crenças e a prática religiosa do outro. Para não falar dos já infelizmente conhecidos atropelos à dignidade humana.

    “... mas se calhar era bom balanceá-lo com o aviso a raparigas católicas sobre o casamento apenas.”
    Está fartinho de o fazer, a Igreja está farta de o fazer... às raparigas, aos rapazes, aos casais, aos pais dos casais, aos padrinhos, aos convidados, aos amigos, à sociedade de fachada que transforma o matrimónio num espectáculo deprimente de vaidades e completamente deprovido de de vivência legitimadora e de fé... Enfim. Posso enviar no próximo comentário todas as reflexões sobre a profundidade dos sacramentos.

    “A minha questão é se a sua crença profunda não o afasta demasiado de uma possível compreensão, mais "aos olhos" de um crente no islão.”
    A crença e a fé não são um pano opaco, não são vendas, mas uma abertura extraordinária ao outro, e às suas diferenças, para o aceitar como é e construir um mundo de diversidade absoluta e radical. Poderá não ter qualquer relevância (até porque não conheço nem estudei a obra), mas achei curioso encontrar, entre as suas publicações inscritas na sua formação, o título da sua tese de licenciatura: Teologia das Religiões Não Cristãs. Conhecimento teórico? Com toda a certeza, mas apoiada e fundada numa vivência profunda da fé.

    Mais um grande abraço!  


 

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