Temporal

Foi impressão minha ou ontem ia acabando o mundo? Já não me lembro da última vez que deixei de sair de casa por causa de chuva, vento ou derivados. Mas a verdade é que ontem dei ouvidos à entidade maternal e não arrisquei. Do alto do quinto andar, tudo parecia tão frágil que assustava. As raízes das árvores agarravam-se à terra decididas mas o seu esforço parecia inútil. Os carros faziam-se ouvir de forma repetida e ritmada. Voavam chapéus de chuva. Os caixotes de lixo, distantes do seu habitat natural, circulavam no meio da estrada. A menina da casa encolhia-se com o som que o vento fazia nas janelas. Abraços do "tem-calma-vais-ver-que-isto-já-passa" ou beijinhos "não-te-assustes-que-estamos-aqui-contigo" circulavam à mesma velocidade que a chuva caía. É engraçado quando os pais tentam esconder o próprio medo para acarinhar e acalmar os filhos. E é incrível ver como o calor de um corpo conhecido consegue mudar os olhos de uma criança, que outrora esbugalhados sem pestanejar, agora começavam a amolecer e a fechar-se lentamente... Ao mesmo tempo, lá fora, as nuvens secavam, as árvores descansavam da luta e os caixotes de lixos regressavam a casa.

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